ANTROPOLOGIA - ÍNDIOS - AMBIENTE

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Monólogo de Natal

 Aldemar Paiva


Não gosto de você Papai-Noel...
Também não gosto desse seu papel
De vender ilusões à burguesia.
Se os garotos humildes da cidade
Soubessem de seu ódio à humildade,
Jogavam pedras nessa fantasia!

Você, talvez, nem se recorde mais,
Cresci depressa e me tornei rapaz
Sem esquecer, no entanto, o que passou...
Fiz-lhe um bilhete pedindo um presente
E a noite inteira eu esperei contente,
Chegou o sol e você não chegou!

Dias depois, meu pobre pai, cansado,
Trouxe um trenzinho feio, enferrujado,
Que me entregou com certa hesitação.
Fechou os olhos e balbuciou:
- É prá você... Papai Noel mandou -
E se esquivou contendo a emoção!

Alegre e inocente, nesse caso
Pensei que o meu bilhete com atraso
Chegara às suas mãos no fim do mês.
Limpei o trem, dei corda, ele partiu,
Deu muitas voltas e meu pai sorriu
E me abraçou pela última vez!

O restou só eu pude compreender
Quando cresci e comecei a ver
Todas as coisas com realidade.
Meu pai chegou um dia e disse a medo:
- Onde é que está aquele seu brinquedo?
Eu vou trocar por outro na cidade –

Dei-lhe o trenzinho, quase a soluçar
E como quem não quer abandonar
Um mimo que lhe deu quem lhe quer bem
Disse medroso: - Eu só queria ele...
Não quero outro brinquedo...quero aquele...
E por favor não vá levar meu trem –

Meu pai calou-se e pelo rosto veio
Descendo um pranto que eu ainda creio,
Tão puro e santo, só Jesus chorou.
Bateu a porta com muito ruído,
Mamãe gritou, ele não ouvidos,
Saiu correndo e nunca mais voltou!

Você, Papai Noel me transformou
Num homem que a infância arruinou,
Sem pai e sem brinquedos. Afinal,
Dos seus presentes, não há um que sobre
Para a riqueza do menino pobre
Que sonha o ano inteiro com o Natal!!

Meu pobre pai, doente, mal vestido,
Prá não me ver assim desiludido
Comprou por qualquer preço uma ilusão...
Num gesto nobre, humano, decisivo,
Foi longe prá trazer-me um lenitivo,
Roubando o trem do filho do patrão!

Pensei que viajara, no entanto,
Depois de grande, minha mãe em pranto
Contou que fora preso. E como réu,
Ninguém a absolvê-lo se atrevia.
Foi definhando até que Deus um dia
Entrou na cela e o libertou pro Céu!


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O “agrobanditismo” e as disputas territoriais em Mato Grosso do Sul


Márcia Yukari Mizusaki
Bem apropriado é o termo dado pelo geógrafo da USP, Ariovaldo Umbelino de Oliveira, aos mecanismos utilizados por determinados agentes ligados ao campo para reafirmarem o seu poder de mando no país: agrobanditismo. Não há nome mais apropriado para qualificar os inúmeros assassinatos e violências a que têm sido acometidos os povos indígenas de Mato Grosso do Sul, em especial os Guarani-kaiowá, praticados por pistoleiros e contando com o silêncio e a conivência de muitos, na questão da demarcação das terras indígenas. Em 2010, segundo dados registrados pelo CIMI, das 1.015 lesões corporais sofridas pelos povos indígenas no Brasil, 1.004 aconteceram no Mato Grosso do Sul. Das 152 ameaças de morte, 150 aconteceram no Mato Grosso do Sul. Dos 60 assassinatos, 34 no Mato Grosso do Sul. Para o ano de 2011, farão parte dessa escandalosa estatística, Teodoro Ricardi (primo dos professores indígenas assassinados em 2009), o cacique Nísio Gomes, dentre tantos outros. Apesar desses números, não é demais lembrar que esse estado não é o que possui a maior população indígena do país. Mais do que simples números, esses dados revelam a face perversa da questão agrária em Mato Grosso do Sul, onde o negócio da terra é mais importante do que a vida de seres humanos.
O assassinato, a violência e a intimidação de indígenas que lutam pela recuperação de seus territórios é situação conivente para todos aqueles que são afetados pela questão da demarcação de terras indígenas. É justamente por isso que a questão agrária coloca as pessoas em lados opostos. Terra é meio de produção e de reprodução da vida. Apropriar-se dela, na sociedade capitalista, significa ter o controle sobre um meio de reprodução da vida. Estando nas mãos de poucos, como no caso brasileiro, significa que a maioria, dela está expropriada. Na sociedade capitalista, a terra virou mercadoria, fonte de lucro, renda e poder, o que vem motivando o assassinato e a violência contra aqueles que buscam (re)territorializar outros modos de vida, outras formas de se relacionar com a natureza. Por trás dos pistoleiros existem os mandantes (quase sempre impunes pelos crimes que cometeram), os coniventes e todos aqueles cujos interesses, são afetados com o movimento de luta dos indígenas pela recuperação de seus territórios. Não o fosse, a questão indígena não teria chegado nos níveis em que chegou. Ao confrontarem-se as diferentes formas de apropriação do território, elas se tensionam e acirram as disputas territoriais. Os Guarani acampam, para reivindicar suas terras tradicionais. Em reação, recebem “bala”, são barbaramente assassinados. Por trás dessas diferentes relações, encontram-se diferentes concepções de propriedade, de sociedade, de natureza. Terra para o índio é um bem sagrado e não um negócio. 
No contexto dessas diferentes formas de apropriação do território há que se acrescentar que parte das terras de Mato Grosso do Sul foram apropriadas historicamente por caminhos tortuosos e práticas ilegais, o que resulta, ainda na atualidade, na presença de 5,3 milhões de hectares de terra devoluta, segundo Ariovaldo, que o afirma com base em dados de 2003 do INCRA. Muito provavelmente existem terras tradicionais indígenas nessas áreas. E por que o Estado não desapropria essas terras? Algo precisa ser feito. Faço aqui uma provocação. O poder público, nas suas várias instâncias, todos os parlamentares e fazendeiros que se considerem honestos e do bem (e que não concordam com tais práticas), enfim, toda a sociedade, poderiam começar um movimento de luta para que as terras devolutas sejam desapropriadas e entregues para fins de demarcação de terras indígenas ou reforma agrária, pois a vida, não pode ser tratada como se fosse uma coisa apenas, uma mercadoria, que se compra, que se vende ou se descarta. A gravidade da situação pede uma atitude.
Ressalte-se ainda, que esse debate não pode ser feito sem estar atrelado a uma outra face desse processo: a questão da soberania alimentar (já que a terra está sendo tomada pelo monocultivo). Certamente, que 5,3 milhões de hectares destinados a produzir alimentos (diga-se, arroz, feijão, legumes e verduras, frutas etc.) e à demarcação de terras indígenas, seriam um bom começo para reduzirmos os problemas que envolvem os conflitos e a violência, não somente no campo, mas na cidade também.
 Enquanto isso vemos o setor sucroalcooleiro brigando na justiça para conseguir a liberação da queima da palha da cana (prática comprovadamente tida como prejudicial à saúde e que o setor insiste em legitimá-la no Estado); vemos a prefeitura de Dourados, liberando 30 mil reais para evento do setor sucroalcooleiro (CANASUL). É incrível como para o agro-negócio sempre tem dinheiro (sem entrar na questão dos bilhões liberados pelo BNDES). E a questão indígena? Sempre tratada como um problema menor, diante da lucratividade, produtividade, rentabilidade que o setor promete, apesar de não bebermos etanol e apesar de o preço do álcool estar nas alturas.
O assassinato do cacique Nísio Ramos é assim, parte constitutiva e inter-relacionada desse modelo de sociedade e de desenvolvimento que perpassa o país e o Estado de Mato Grosso do Sul, em particular. É esse modelo insustentável de desenvolvimento, que precisa de terras para o monocultivo, terras como reserva de valor, terras para apropriação da sua riqueza, água para aumentar produção de energia, que não quer terras para os índios, pois terra, como bem sagrado, atrapalha esse modelo de desenvolvimento.
Finalizo esse pequeno texto, às 00 horas e 45 minutos do dia 22 de novembro, cansada, mas movida pela necessidade de repudiar mais esse ato de violência contra esse povo. Precisamos cuidar do ambiente inteiro e não apenas de uma árvore. Também fazemos parte da natureza.
Márcia Yukari Mizusaki é professora  dos cursos de graduação e mestrado em Geografia da UFGD.  E-mail: marciamizusaki@ufgd.edu.br.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Massacre de índios Guarani Kaiowá no acampamento em Amambaí - MS


*Flávia Carolina da Costa

Ontem pela amanhã, ao abrir meu e-mail, recebi mais uma triste notícia de uma situação de violência contra um grupo indígena acampado em uma área em litígio e a espera da continuidade do processo de regularização fundiária da terra indígena. O acampamento se localiza em Amambaí, sul de Mato Grosso do Sul, a menos de cem quilômetros da fronteira com o Paraguai. O acampamento está localizado em uma pequena parte da área de ocupação tradicional chamada Guaiviry. A área esta inserida no conjunto de terras indígenas que deverão ser demarcadas no Mato Grosso do Sul. O processo de identificação destas áreas começou em 2007 e desde então vem sido repetidamente interrompido pelos conflitos políticos que o envolve. Enquanto isso, repetidos atos de assassinatos contra grupos indígenas que aguardam pela identificação e demarcação destas áreas vem ocorrendo. A situação de insegurança e medo vivido pelas populações indígenas é insustentável.  No ano passado a Survival Internacional publicou um importante relatório denunciando a situação das populações guarani no estado de Mato Grosso do Sul. Fiquei chocada com o que aconteceu e sabia que não tinha como ficar quieta, não falar nada ou fingir que estava tudo bem. Sou professora na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul na unidade de Amambaí, no curso de ciências sociais. Fique pensando como daria aula para os estudantes indígenas naquele dia. Então, fui conversando com os alunos, um a um, e marcamos de nos reunirmos todos para conversamos, até que eles decidiram por escrever uma carta. A carta foi escrita por eles ficando como minha responsabilidade a divulgação dela. Na carta, como vocês poderão ver, um aluno da história e morador da aldeia de Amambaí fala algo muito parecido com o que Marcos Homero Ferreira Lima, antropólogo do MPF de Dourados diz para a Survival sobre um acampamento de beira de estrada localizado as margens da BR 163 no município de Dourados. Homero diz: Não se trata de hipérbole quando se fala em genocídio, pois, a série de eventos e ações perpetradas contra o grupo, como se objetivou demonstrar, desde o final da década de 1990, tem contribuído para submeter seus membros a condições tolhedoras da existência física, cultural e espiritual. Crianças, jovens, adultos e velhos se encontram submetidos a experiências degradantes que ferem diretamente a dignidade da pessoa humana. O modo de vida imposto àqueles Kaiowá é revelador de como os brancos vêem os índios. O preconceito, o descaso, o descuido, a não consideração dos direitos à terra, à vida, à dignidade são patentes. A situação por eles vivenciada é análoga àquela de um campo de refugiados. É como se fossem estrangeiros no seu próprio país. É como se os 'brancos' estivessem em guerra com os índios e a estes últimos só restasse a fina faixa de terra que separa a cerca de uma fazenda e a beira de uma rodovia.

A crueldade do caso envolvendo o acampamento e a truculência dos assassinos não pode ser tratada como mais um caso de violência. Estamos vivendo uma guerra de fato, mas é uma guerra que só morrem pessoas de um lado.

Segue a carta dos estudantes Guarani e Kaiowa dos cursos de ciências sociais e história. As informações contidas na carta foram recebidas por pessoas que estavam no acampamento na hora do massacre. Peço, por gentileza, que ajudem na divulgação para que possamos agregar mais gente na luta contra a violência contra os povos indígenas.

Por volta das seis horas chegaram os pistoleiros. Os homens entraram em fila já chamando pelo Nísio. Eles falavam segura o Nísio, segura o Nísio. Quando Nísio é visto, recebe o primeiro tiro na garganta e com isso seu corpo começou tremer. Em seguida levou mais um tiro no peito e na perna. O neto pequeno de Nísio viu o avô no chão e correu para agarrar o avô. Com isso um pistoleiro veio e começou a bater no rosto de Nísio com a arma. Mais duas pessoas foram assassinadas. Alguns outros receberam tiros mas sobreviveram. Atiraram com balas de borracha também. As pessoas gritavam e corriam de um lado para o outro tentando fugir e se esconder no mato. As pessoas se jogavam de um barranco que tem no acampamento. Um rapaz que foi atingido por um tiro de borracha se jogou no barranco e quebrou a perna. Ele não conseguiu fugir junto com os outros então tiveram que esconder ele embaixo de galhos de árvore para que ele não fosse morto.

Outro rapaz se escondeu em cima de uma árvore e foi ele que me ligou para me contar o que tinha acontecido. Ele contou logo em seguida. Ele ligou chorando muito. Ele contou que chutaram o corpo de Nísio para ver se ele estava morto e ainda deram mais um tiro para garantir que a liderança estava morta. Ergueram o corpo dele e jogaram na caçamba da caminhonete levando o corpo dele embora.

Nós estamos aqui reunidos para pedir união e justiça neste momento.
Afinal, o que é o índio para a sociedade brasileira?
Vemos hoje os direitos humanos, a defesa do meio ambiente, dos animais. Mas e as populações indígenas, como vem sendo tratadas?
As pessoas que fizeram isso conhecem as leis, sabem de direitos, sabem como deve ser feita a demarcação da terra indígena, sabem que isso é feito na justiça. Então porque eles fazem isso? Eles estão acima da lei?

O estado do Mato Grosso do Sul é um dos últimos estados do Brasil mas é o primeiro em violência contra os povos indígenas. É o estado que mais mata a população indígena. Parece que o nazismo está presente aqui. Parece que o Mato Grosso do Sul se tornou um campo de fuzilamento dos povos indígenas. Prova disso é a execução do Nísio. Quando não matam assim matam por atropelamento. Nós podemos dizer que o estado, os políticos e a sociedade são cúmplices dessa violência quando eles não falam nada, quando não fazem nada para isso mudar. Os índios se tornaram os novos judeus.

E onde estão nossos direitos, os direitos humanos, a própria constituição? E nós estamos aí sujeito a essa violência. Os índios vivem com medo, medo de morrer. Mas isso não aquieta a luta pela demarcação das terras indígenas. Porque Ñandejara está do lado do bom e com certeza quem faz a justiça final é ele. Se a justiça da terra não funcionar a justiça de deus vai funcionar.

Estudantes Guarani e Kaiowá dos cursos de ciências sociais e história e moradores da aldeia de Amambaí.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Terra Indígena Bananal: Territorialização Tapuya a materialização da presença indígena em Brasília


Por:  Frederico Flávio Magalhães


Brasília nasceu, com uma de suas principais responsabilidades de nova capital; tratar as questões relacionadas a todos os Povos Indígenas do Brasil, conforme a Constituição Brasileira que sempre manteve as atribuições da relação entre o Estado e os Povos Indígenas na alçada federal, ou seja, na responsabilidade da União. Construída em um território que antes da sua concepção, foi terra de etnias do cerrado, Brasília nunca permitiu que em seu desenho urbanístico fosse considerada a presença indígena. Ao contrário, foi orientada para negar os aspectos étnicos do seu povo. Desde o dia de sua inauguração, a visitação dos povos indígenas é muito intensa e o tratamento que desde sempre receberam na Capital foi a indiferença e o desprezo que ainda marcam sua história. A participação dos povos indígenas na construção de Brasília se faz desde o começo de sua implantação através da participação de mão-de-obra indígena. É importante a saga do Povo Fulni-Ô que partindo de Pernambuco vem participar de sua construção estabelecendo território na Capital. Como forma de resistência cultural se reorganizam culturalmente em novo território para manter a sua identidade indígena . Aqui seus Pajés se dedicam ao culto sagrado em seus rituais e manifestações religiosas ancestrais, revelando a presença indígena em contraponto histórico a propalada extinção dos povos indígenas nesta região desde os tempos da devastadora bandeira de Anhanguera. Cabe a Brasília, o reconhecimento da Comunidade Indígena Bananal, que ocupa por mais de cinquenta anos um território tradicional próximo ao Córrego Bananal, e resgatar neste momento a dívida histórica que nossa sociedade brasileira tem para com os povos indígenas. Este reconhecimento significa admitir a modernidade, marca identitária de Brasília e assumir de forma adequada a contribuição que o modo de vida indígena pode imprimir a nossa dinâmica de cidade inventada. A disseminação de princípios e valores humanos, atributos milenares das sociedades indígenas baseados na reciprocidade, solidariedade e justiça social, que somadas a vocação ecológica das comunidades indígenas, estabelecem uma relação equilibrada entre o homem e a natureza, impõem a Brasília a obrigação de assimilar um novo ordenamento urbano ao admitir a presença indígena na sua estrutura como solução para um crescimento sustentado. Reconhecer o território indígena em Brasília representa simbolicamente estar reconhecendo pelo próprio país a sua ancestralidade indígena, formadora permanente dos nossos princípios enquanto civilização autônoma. As questões territoriais relacionadas a história da presença indígena em Brasília e seus aspectos jurídicos asseguram a Comunidade Indígena Bananal a sua presença permanente na estrutura da Capital do Brasil, cabendo às instituições envolvidas, uma mudança de atitude para tratar os indígenas como brasileiros culturalmente diferenciados e brasilienses na sua cidade.

Trabalho completo em : 

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Panará - Os índios gigantes




Reportagem de 1973 (revista Veja) sobre os Panará, os índios gigantes. O jovem Megaron participou ativamente na defesa desse grupo desde os primeiros contatos.

Os Panará se tornaram famosos nos primeiros anos da década 70. As notícias diziam que os índios que moravam na bacia do Rio Peixoto de Azevedo, no norte do Mato Grosso, eram muito brabos e de uma estatura gigantesca. Estes índios capturaram a imaginação do público brasileiro e estrangeiro e a expedição para contatá-los foi uma das mais bem documentadas na imprensa nacional e internacional aproveitando, sem dúvida, as novas possibilidades da telecomunicação. (Elizabeth Ewart)

sábado, 29 de outubro de 2011

Indío na Visão Dos Indíos - "Somos Patrimônio"



Em 2011 a THYDÊWÁ terminou o livro que iniciou com o Prêmio Somos Patrimônio através do apoio financeiro do IPAC. Faça o download gratuito do livro em anexo.


O livro tem depoimentos e fotografias de mais de 40 indígenas autores, pertencentes a 10 etnias diferentes, localizadas em: Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio de Janeiro.

O livro tem 64 paginas, através das quais diferentes indígenas partilham diferentes visões, incitando a todos a refletir sobre o valor das sabedorias tradicionais, das populares, não sobre a propriedade privada mas, sobre o Patrimônio da Humanidade.

Baixe do site do Iteia http://www.iteia.org.br/salvar.php?c=3234&f=1&a=1

ou
http://bit.ly/tSYxh2 (4shared)


terça-feira, 25 de outubro de 2011

1º Workshop de Turismo de Base Comunitária

Evento contará com a participação de especialistas como Carlos Maldonado, da OIT, além de cases das populações tradicionais
Estão abertas as inscrições para o “1º Workshop de Turismo de Base Comunitária no Amazonas: protagonismo das populações tradicionais e povos indígenas”, a ser realizado pela Escola Superior de Artes e Turismo, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Os interessados em participar do evento, que vai acontecer em Manaus de 3 a 4 de novembro, no auditório da Escola Superior de Tecnologia da UEA, podem se inscrever no endereço eletrônico tbcamazonas.blogspot.com.

O turismo de base comunitária são iniciativas e atividades protagonizadas pelas comunidades locais que, se ordenadas e bem estruturadas, representam importantes experiências turísticas, agregando valor aos roteiros e gerando emprego e renda nas comunidades tradicionais.

O Workshop contemplará palestras viabilizando a contextualização teórica sobre o turismo de base comunitária, assim como o relato de experiências das populações tradicionais e povos indígenas acerca das atividades turísticas desenvolvidas em seus territórios, pautadas em ações coletivas e no protagonismo social.

Estão previstos ainda momentos para debates coletivos com os participantes, e a formatação de grupos de trabalho que ficarão responsáveis por sistematizar os princípios norteadores para a formulação de diretrizes para um turismo de base comunitária condizente com as especificidades culturais da Amazônia.

A dinâmica do evento contemplará palestras com personalidades nacionais que possuem vasta experiência na área, além de cases das populações tradicionais. No primeiro dia, por exemplo, Carlos Maldonado, especialista na Organização Internacional do Turismo (OIT) em políticas de emprego e desenvolvimento de empresas, palestrará sobre “Rede de Turismo na América Latina: A Experiência da Redturs”. Maldonado é fundador e coordenador da Redturs.
Já experiências que estão sendo desenvolvidas no interior do Estado serão abordadas por entidades como a Fundação Amazonas Sustentável e a Fundação Vitória Amazônica.


04/11/2011 (SEXTA-FEIRA)
9h30 - Palestra 3 - ATIVIDADES TURÍSTICAS NAS TERRAS INDÍGENAS BRASILEIRAS: ABORDAGEM ANALÍTICA E PROPOSTA DE REGULAMENTAÇÃO
Sr. Gilberto da Silva, MSc. - FUNAI/DF 


Veja a programação completa no link http://tbcamazonas.blogspot.com/


Fonte:http://www.uea.edu.br

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A proteção dos direitos indígenas no Santuário dos Pajés, em Brasília-DF: Laudo entregue a FUNAI por antropólogos indicados pela ABA esclarece a questão


18/10/2011
Diante dos acontecimentos repercutidos na sociedade brasiliense e na imprensa nacional sobre a invasão da terra indígena Bananal ou Santuário dos Pajés, localizada no Plano Piloto da Capital Federal, o que tem acarretado na destruição do cerrado e em violência física contra indígenas e seus simpatizantes, a Comissão de Assuntos Indígenas (CAI) da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) vem a público alertar para a urgência da identificação, delimitação, demarcação e proteção da área, e prestar os seguintes esclarecimentos:
Por solicitação da     FUNAI, a ABA indicou dois experientes antropólogos para a elaboração do laudo antropológico sobre a área, cujos nomes foram previamente referendados por lideranças da comunidade indígena do Santuário dos Pajés, onde vivem famílias Fulni-ô, Kariri Xocó e Tuxá, oriundas do Nordeste do país. São eles: Prof. Dr. Jorge Eremites de Oliveira (coordenador) e Prof. Dr. Levi Marques Pereira (colaborador), ambos docentes da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), sediada em Mato Grosso do Sul, onde atuam nos programas de pós-graduação em Antropologia e História, tendo participado da produção de diversos laudos administrativos e judiciais sobre terras indígenas naquele estado, todos aprovados pelo órgão indigenista oficial.
O estudo intitulado Laudo antropológico referente à diligência técnica realizada em parte da área da antiga Fazenda Bananal, também conhecida como Santuário dos Pajés, localizada na cidade Brasília, Distrito Federal, Brasil, concluído sob a coordenação do antropólogo Prof. Dr. Jorge Eremites de Oliveira, foi entregue no início de setembro de 2011 a servidores da FUNAI em Brasília, a antropólogos do Ministério Público Federal (MPF) e a lideranças da comunidade indígena do Santuário dos Pajés. Mais recentemente, no dia 13/10/2011, foi entregue uma nota complementar com medições da terra indígena à Presidência da FUNAI, MPF e lideranças do Santuário dos Pajés.
O Laudo concluído atesta de maneira clara, objetiva e consistente que se trata de terra tradicionalmente ocupada por comunidade indígena, cuja extensão é de, pelo menos, 50,91 hectares. Atesta que a ocupação indígena no Santuário dos Pajés remonta a fins da década de 1950, quando ali chegaram indígenas da etnia Fulni-ô, provenientes de Águas Belas, Pernambuco, e iniciaram o processo de ocupação da área. Posteriormente, a partir da década de 1970, famílias Tuxá e Fulni-ô  estabeleceram moradia permanente no lugar e ali passaram a constituir uma comunidade multiétnica, com fortes vínculos de tradicionalidade com a terra e participantes de uma complexa rede de relações sociais. Mais tarde somaram-se a elas famílias Kariri Xocó. Um Processo da FUNAI no qual constavam importantes documentos para o esclarecimento dos fatos, inclusive procedimentos oficiais para a regularização da área, sob Nº 1.607/1996, desapareceu de dentro do próprio órgão indigenista.
Nos últimos anos, parte da área tem sofrido impactos negativos diretos pelas obras do Projeto Imobiliário Setor Noroeste, sob a responsabilidade da empresa TERRACAP, cujo licenciamento ambiental ocorreu sem o necessário estudo do componente indígena local. Além disso, tem sido registrada a destruição da área de preservação ambiental e o uso da violência física contra membros das famílias indígenas e seus apoiadores, bem como prejuízos às suas moradias e demais benfeitorias, conforme divulgado pela imprensa nacional.
É urgente que a FUNAI constitua um Grupo de Trabalho para proceder aos estudos necessários à identificação, delimitação e demarcação da terra indígena, em conformidade com a lei. Isso é necessário que a Justiça faça jus ao próprio nome e proíba a continuidade das obras, solicitando a retirada das construtoras da área e apurando as violações aos direitos humanos, indígenas e ambientais que têm sido amplamente divulgadas nos meios de comunicação.
A morosidade da FUNAI em tomar as providências para assegurar os direitos territoriais, inclusive no que se refere à entrega formal do laudo à Justiça, tem aumentado a situação de vulnerabilidade e causado grandes prejuízos àquela comunidade indígena e à conservação ambiental do lugar. Tal postura favorece os setores ligados à especulação imobiliária em Brasília e seus aliados políticos, inclusive pessoas ligadas a conhecidos esquemas de corrupção no Distrito Federal e segmentos da impressa a elas vinculados, os quais seguidamente distorcem e manipulam os fatos a favor de seus patrocinadores.

Rio de Janeiro, 18 de outubro de 2011.



João Pacheco de Oliveira
Coordenador da Comissão de Assuntos Indígenas/ABA

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

"Sustentável soy yo!"



*Roberto Smeraldi


A nova norma sobre sustentabilidade do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária pode alterar o dia a dia de consumidores, anunciantes, mídia e entidades dos direitos difusos.
Não só a autoridade competente (Conar) pretende restringir a prática da maquiagem verde, mas também cria condições para que inteiros setores adotem cuidados inéditos nos anúncios convencionais.
Como no exterior, a norma nasce a partir de um julgamento pioneiro que criou jurisprudência: foi em 2008, quando a Petrobras -acionada por entidades da sociedade civil e órgãos públicos de São Paulo e Minas Gerais, sob a liderança visionária de Fábio Feldmann- foi condenada a retirar anúncios em contraste com suas práticas, em particular pela qualidade do diesel.
Ainda sem normas específicas, o Conar se embasou apenas nos critérios gerais do Código.
Norteada pelos conceitos de concretude, veracidade, pertinência e relevância, a norma tem três consequências principais quanto às alegações de sustentabilidade.
A primeira é a de exigir a comprovação por terceiros a respeito de seus atributos, lastreando, assim, o uso de sistemas críveis de certificação. Não é mais possível rotular a si mesmo como "eco-alguma coisa" sem atestado independente, com critérios publicados e embasados.
A segunda é o foco no "impacto global de produtos e serviços" da empresa, ou seja, não será possível promover um produto cuja embalagem poupe energia, mas cujo insumo principal seja oriundo de desmatamento.
A terceira é que não vale se gabar pelo mero cumprimento de exigências, do gênero "não tem ilegalidade": deve haver uma clara adicionalidade à lei para ilustrar um "benefício socioambiental".
Mas a norma não só padroniza as alegações de sustentabilidade: também prevê que sejam "vigorosamente combatidos" todos os estímulos, mesmo que indiretos, a poluição, depredação ou desperdício de recursos naturais.
Pode haver ambiguidade nas implicações, mas a promoção irrestrita de produtos e serviços de alto impacto poderá, no mínimo, ser questionada perante o Conar, em que poderá se comprovar, com base em dados e pesquisas confiáveis, o nexo com tais impactos.
O risco de enfrentar processos desse tipo, com óbvias consequências reputacionais, pode fazer com que anunciantes e agências passem a ser cautelosos.
Mas é necessária, mais uma vez, a iniciativa da sociedade, contribuindo para que a norma ganhe peso e capacidade norteadora.
A semiótica nos ensinou que a evolução da cultura resulta de sistemas de significação: a autorregulação, nesse caso, está à frente da lei formal, ou seja, lidera a tendência de busca por padrões de competitividade e inovação, em vez de ir a reboque de restrições limitantes ou mesmo adotar postura defensivista e proteladora.
Sugiro dois indicadores futuros para checar se a norma será transformadora: nas empresas, a discussão sobre investir em sustentabilidade passa a anteceder aquela sobre investir em marketing verde.
Já na prateleira, some de vez o "100% natural".

ROBERTO SMERALDI, jornalista, é diretor da Oscip Amigos da Terra - Amazônia Brasileira e autor do "Novo Manual de Negócios Sustentáveis" (Publifolha, 2009). 

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Comunidade e Sociedade

 Por Alberto Buela  



Assim como a distinção propriamente política é a oposição entre as categorias “amigo” e “inimigo” público, da mesma maneira o contraste entre “comunidade” e “sociedade” vem a ser a distinção fundamental de todo o pensamento sociológico. Seja que uns valorizem mais a categoria de “comunidade” e outros a de “sociedade”, o certo é que ninguém escapa a tal oposição e acabam enunciando-a com diferentes termos. Assim temos: sociedade aberta e sociedade fechada em Karl Popper, comunidade e sociedade em Ferdinand Tönnies, sociedade tradicional e sociedade moderna em Max Weber, solidariedade orgânica e solidariedade mecânica em Emile Durkheim, comunidade de sangue e comunidade de eleição em Martin Buber, sociedade homogénea e sociedade heterogénea em Herbert Spencer, etc.

Há já uma década defendemos a esse respeito que:”O certo é que a ideia de comunidade enuncia no seu sentido original a participação dos homens que a compõem num núcleo aglutinado de valores (“bens”) que lhes são comuns. Ao passo que a sociedade enuncia antes a aceitação por parte dos seus membros de um conjunto de normas (“deveres”) que regulam a relação entre eles” (Alberto Buela,1987). Notamos como a teoria liberal coloca, como o fez desde Kant a Rawls, a primazia do “dever e do direito” sobre o “bem”, enquanto a teoria social-comunitária desde Aristóteles a McIntyre outorga a prioridade do “bem” sobre o “direito”.
A ideia de comunidade supõe a existência de bens ou valores que são comuns ao seus membros e dado que ante os valores existem apenas duas atitudes: preferi-los ou preteri-los – não há lugar para a conduta neutra como a proposta liberal de Estado neutro –, a vinculação dos membros na comunidade é existencial.

A ideia de sociedade está vinculada à de contrato social enquanto a de comunidade à de "estado" social. A solidariedade é subjectivamente sentida pelos seus membros (Weber) enquanto na sociedade se limita ao prescrito pelas normas legais e pode, no máximo, entender-se como filantropia. A noção de sociedade está relacionada com a ideia de “humanidade civilizada e progressista” própria dos filósofos do iluminismo (Diderot, Condorcet, Montesquieu, Kant, Herder, Goethe, Schiller, Schaftesburg, etc.) enquanto o conceito de comunidade refere-se sobretudo à união orgânica e natural do homem à sua pátria (*).

A sociedade, na definição clássica do sociólogo Ferdinand Tönnies (1855-1939), é um círculo de indivíduos que, apesar de viverem pacificamente uns ao lado dos outros, não estão “essencialmente unidos, mas essencialmente separados” (1944). Numa palavra, a ideia de sociedade vincula-se à de capitalismo demo-liberal-burguês, onde a satisfação egoísta das necessidades do homem-indivíduo deixa de parte toda a referência ao próximo, enquanto que a categoria de comunidade vincula-se com a de sociedade pré-moderna.

Do ponto de vista filosófico foi Hegel (1770-1831) que nos brindou com a mais profunda caracterização de sociedade quando na sua Filosofia do Direito no-la descreve e logo nos mostra a sua superação pela ideia de comunidade.

Excerto de "Comunitarismo e Poder Político", traduzido por Rodrigo Nunes

(*)Embora Buela seja professor de filosofia a inclusão de Herder naquele grupo de filósofos não me parece a mais correcta.Creio que mesmo os nomes de Goethe e Schiller só poderão ser ali incluidos na sua fase pós "Sturm und Drang".



sábado, 20 de agosto de 2011

1ª. Cumbre Regional Amazônica Saberes Ancestrais, Povos e Vida Plena em Harmonia com as Florestas


No período de 15 a 18 de agosto de 2011, os Povos indígenas da Pan Amazônia, realizaram o Grande Encontro PanAmazônico: Saberes Ancestrais, Povos e Vida plena em Harmonia com as Florestas - A Cumbre de los Bosques.
O evento foi uma iniciativa da COICA – Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica, em parceria com a COIAB e demais organizações que a compõem. As lideranças, representando nove países, elaboraram o documento abaixo. A  reprodução integral foi disponibilizada no domínio na world wide web da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica – COIAB. Link direto: http://bit.ly/qeoDal

Mandato de Manaus: Documento Final da Cumbre Regional Amazonica

Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica
AIDESEP-APA-CIDOB-COIAB- CONFENAIE-FOAG- OIS- OPIAC-ORPIA

1ª. Cumbre Regional Amazônica Saberes Ancestrais, Povos e Vida Plena em Harmonia com as Florestas (15 – 18 agosto 2011)

“ Somos Povos sem Donos, igual que a Vida”

Mandato de Manaus: Ação Indígena Pela Vida

Reunidos em Manaus de 15 a 18 de agosto del 2011, na 1ª. Cumbre Regional Amazônica, os povos indígenas amazônicos e as organizações nacionais de nove países: Bolívia (CIDOB), Brasil (COIAB), Equador (CONFENIAE), Colômbia (OPIAC), Guyana (APA), Guyana Francesa (FOAG), Peru (AIDESEP), Venezuela (ORPIA) e Suriname (OIS) e em diálogo com aliados de diversas entidades sociais, estatais e ambientais; comprovamos que a crise climática e ambiental, é gravíssima, em pouco tempo irreversível, enquanto os poderes globais e nacionais, não podem nem querem detê-la, e pior, pretendem ‘aproveitá-la com mais “negócios verdes” mesmo que ponham em perigo todas as formas de Vida. De poderes, baseados no racismo, patriarcado, individualismo e de consumismo desenfreados, de mercantilização e privatização de tudo e a irresponsabilidade soberba de “domínio” da natureza esquecendo que apenas somos uma pequena parte dela.

Denunciamos a hipocrisia e contradição nas políticas globais e nacionais sobre as florestas, em junto a declarações, planos, pequenos projetos “sustentáveis”, aprofunda-se a depredação, o desmatamento, a degradação por parte dos negócios de minérios, de hidrocarbonetos, mega-hidrelétricas, pecuária extensiva, soja, agronegócio, “agro-combustíveis”, super estradas de colonização, transgênicos, agrotóxicos, superposição de áreas protegidas em territórios indígenas, biopirataria e roubo dos conhecimentos ancestrais. Sendo necessárias melhores práticas florestais, encobrem-se que a melhor delas é mudar profundamente as macro políticas da globalização neoliberal.

Propomos os seguintes objetivos, enfoques, alternativas e ações:

1.         Territórios de Vida Plena para o desaquecimento planetário.

Está demonstrado que os refúgios da vida são as florestas e territórios dos povos amazônicos, como efetivas barreiras à depredação. Por isso é indispensável mudar as legislações e políticas públicas para garantir a demarcação dos territórios dos povos indígenas amazônicos e a sua titularidade coletiva como povos e também para respaldar, e não agredir nem marginalizar as nossas estratégias de “Vida Plena” diferentes da mercantilização da natureza. Isto é uma estratégia eficaz e eficiente para reduzir o aquecimento global e recuperar a harmonia com a mãe terra, que mantivemos por milhares de anos. Para que não mude o clima, há que se mudar o sistema. É o sistema o que deve se “adaptar” ao clamor da mãe natureza e nós seus filhos da cor da terra. O “custo” financeiro para solucionar esta dívida histórica originada no etnocídio das colonizações, é muitíssimo menor do que o dedicado a ineficazes debates e experimentações.

2. Fortalecer “Redd+ Indígena” e que devedores ecológicos reduzam a sua contaminação.

Perante quem decide sobre o processo “Redd+”: os Estados (BM-BID), FIP, ONU-REDD, COP17-CMUNCC, Rio+20 e outros; demandamos garantias e condições imediatas para os Povos antes de avançar mais nestes processos sobre REDD+ até que sejam devidamente atendidas.

          Respeitar e fortalecer a propostas de REDD+ Indígenas ou adequação da Redd+ às cosmovisões e direitos coletivos dos povos, incluídas nas “Diretrizes da COICA sobre mudanças climáticas e Redd+” e nas propostas das organizações nacionais e que entre outros aspectos, os seguintes:

Sem territórios nem direitos coletivos é inviável a Reed+ * Nenhum contrato comunal até que sejam executadas as regras internacionais, nem a longo prazo, cedendo gestão territorial ou propriedade intelectual com mais penalidades que benefícios nem em idiomas e leis estrangeiras* Respeitar e apoiar a conservação holística das florestas e não somente onde tem desmatamento ou reduzindo-os a toneladas de carbono* Respeitar nossas propostas de regulamentações nacionais sobre Redd+ e a consulta e consentimento livre, prévio e vinculante* Respeitar relatórios da COICA sobre processos Redd+paralelos ao dos Estados* Mecanismos de solução de conflitos com garantias de neutralidade e eficácia * Não apoiar o mercado de créditos de carbono para encobrir aos contaminantes globais.

          Prioridade de políticas e fundos para consolidação e titulação Territorial dos Povos Indígenas, como condição irrestrita antes de avançar sobre Redd+ * Mudanças legislativas nacionais para consolidar Direitos coletivos nas leis de serviços ambientais, florestais sobre “fugas de Redd+”(minérios, hidrocarbonetos, agro-combustíveis, etc) e de consulta e consentimento.

          Estados e Bancos assumam a sua responsabilidade para freiar a expansão dos ladrões de Redd+ (carbon cowboys, borbulha Redd+) mediante: * Registro e certificação pública internacional dos operadores de Redd+ *Rejeição das empresas e ONGs fraudadoras denunciadas pelos povos indígenas *Recomendar às comunidades a que não se comprometam com contratos ‘para Redd+’ ou em ‘negócios de carbono’ até que as regulamentos internacionais e nacionais estejam totalmente claras e implementadas.

          Prioridade da redução da contaminação por Gases de Efeito Estufa(GEI) por parte dos devedores ecológicos industrializados de minorias ricas do poder no norte e no sul.

          Prioridad de la reducción de la contaminación por Gases de Efecto Invernadero (GEI) por parte los deudores ecológicos industrializados de minorías ricas del poder en el Norte y el Sur

3. Unidade entre Saberes Ancestrais e Sobrevivência da Biodiversidade

Nossos saberes ancestrais estão unidos profundamente nas conservação produtiva da natureza, e nesse caminho, perante a Conferência das Partes 11 do Convênio de Diversidade Biológica e o Congresso da União Internacional da Natureza (UICN) chamamos a que sejam respaldados as seguintes propostas:

          Priorizar a demarcação, legalização e segurança jurídica dos territórios indígenas, como garantia para a conservação da biodiversidade e os recursos genéticos e os saberes ancestrais.

          Consolidar o Direito de Consulta Prévia e Consentimento Livre, Vinculante, Prévio e Informado, para o acesso aos recursos genéticos dentro dos territórios indígenas e os conhecimentos tradicionais associados.

          Os recursos genéticos dos territórios indígenas e os conhecimentos ancestrais constituem o patrimônio natural e intelectual coletivo indígenas, conservado por milênios e transmitido de geração em geração.

          O acesso aos conhecimentos ancestrais e os recursos genéticos devem contemplar a participação justa e equitativa nos benefícios incluindo os produtos derivados, tanto dos recursos genéticos como dos conhecimentos tradicionais associados.

          Os conhecimentos ancestrais não estão no domínio público, mas no âmbito cultural dos povos indígenas e os Estados e organismos internacionais(como o Convênio sobre a Diversidade Biológica –CDB) adotem normativas jurídicos sui generis de proteção legal destes conhecimentos ancestrais.

          Não à comercialização do conhecimento ancestral e ao uso indevido e não autorizado para as reivindicações de patentes biotecnológicas.

4. Rio+20 : Soluções para a Vida, não para os Mercados

A Conferência da ONU de junho de 2012 Rio de Janeiro será uma das últimas possibilidades para salvar todas as formas de vida do planeta. Os povos amazônicos chamamos à realização Atos Culturais-Políticos nas proximidades da Cúpula oficial, com líderes de povos e movimentos, artistas, cientistas, intelectuais, que ganhem a opinião pública e política global. Da mesma forma desenvolver estratégias de intervenção política dentro e fora de Rio+20 e construir uma Cúpula dos Povos plural e democrática, com ampla visibilidade pública. Tudo isso para ganhar o mais alto apoio político para a ONU que não se submeta ao irresponsável jogo de interesses do Poder, e que se avancem nos enfoques, objetivos e propostas tais como:

          Não aceitar que a “Economia Verde” seja a combinação de neoliberalismo desenvolvimentista com “projetos verdes” mas uma mudança profunda com redução do consumismo, desperdício e depredação e a mudança do padrão de produção, consumo, distribuição e energia(hidrocarburos, biocombustíveis) com alternativas de harmonia entre sociedades, culturas e natureza.

          Renovação do protocolo de Kyoto, em que haja compromissos firmes e exigíveis, de redução de gases de efeito estufa e com espaços de participação dos povos indígenas. Não deixar o mundo à deriva com poderes que imponham quanto, como e quando reduzir suas emissões.

          Consolidação das Territorialidades dos Povos Indígenas e suas Visões de Vida Plena de gestão holística da natureza para o”resfriamento” do planeta, mediante o aumento qualitativo dos fundos públicos globais para implementar tal demarcação e titulação.

          Estabelecimento de uma Corte Ambiental Internacional, funcionamento urgente, independente dos poderes globais, com espaços de participação indígena, os mais afetados pelos crimes ambientais.

          Reorganizar as atuais entidades ambientais da ONU para não sejam subordinados aos poderes contaminantes, superar o burocratismo e ampliando os espaços de participação e incidência para os povos indígenas amazônicas e do mundo.

Finalmente, a Cumbre propôs o posicionamento da comunicação como uma linha de ação política, não só instrumental.

Incidir em políticas públicas de acesso a meios de comunicação e uso de tecnologias de informação e comunicação e pôr em andamento o projeto de Rede COICA de Comunicadores Amazônicos.

Os povos indígenas e a natureza somos um só, e por isso, estamos obrigados a manter as florestas em pé, reduzir o desmatamento e ser guardiões de seus serviços como a água, biodiversidade, clima para a sobrevivência da Vida. Pedimos somente que nos deixem trabalhar em paz em nossa missão.

¡ Basta de “Belomonstruos” no Brasil, Guiana, Peru (Marañón, Pakitzapango), Bolívia e o Mundo!

¡ Não à um Rio+20 por cima da Morte dos Povos e Vida do Xingu

¡ Não à estrada no Território Indígena Isiboro Secure em Bolívia. Irmão Evo defenda aos povos e não os negócios do BNDES !

¡Basta à destruição petroleira no Equador (Yasuní);Peru (Datem)e outros países !

¡Não às imposições IIRSA, como o eixo multimodal Manta-Manaus que destruirá o Rio Napo!

¡ Ação e Solidariedade com as lutas dos povos indígenas da Amazônia e o mundo!

¡ Guiana, Suriname, Guiana Francesa devem ratificar o Convênio 169 !

Os Povos Indígenas Amazônicos, caminhando sobre a trilha de nossos ancestrais, pedimos ao mundo abrir seus corações e sonhos e unirmos nas jornadas pela Vida, para Todas e Todos

Coordinadora de Organizaciones Indígenas de la Cuenca Amazónica, COICA

Coordinadora de Organizaciones Indígenas de la Amazonía Brasilera, COIAB

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A DELINQÜÊNCIA REVISITADA – a representação das instituições de proteção para os adolescentes reincidentes no ato infracional.

Neste trabalho, realizado em 2004, o antropólogo Gilberto da Silva apresenta uma análise interpretativa a respeito dos adolescentes reincidentes na autoria de ato infracional que cumprem medidas socioeducativas de internação sem possibilidades de atividades externas na FASE/RS (antiga Febem). Refere-se à representação que a instituição de proteção na sua vida cotidiana e egressa, além dos possíveis motivos para a reincidência.
Utilizando a técnica metodológica da observação participante associada ao realismo etnográfico buscou-se um detalhado levantamento de informações dentro de uma das unidades de internação
Num primeiro momento, aborda-se a vida pregressa do adolescente ao sistema socioeducativo. Em segundo lugar sobre as interações sociais que emergiram dentro das unidades de internação as quais ele esteve presente. Em terceiro, realiza-se uma avaliação sobre o cotidiano institucional, significados, rotinas e espaços dentro da instituição total. Na quarta parte do trabalho, ocorre uma abordagem sobre o período que recebeu progressão de medida para o meio aberto e suas relações e, finalmente, as motivações para a reincidência no ato infracional.

Palavras chave: adolescente, delinqüência, institucionalização, proteção, adaptação, socioeducativo, ato infracional, representação, interação social, Febem, crime, prisão, jovem.

Link direto do scribd: http://bit.ly/mUeIkM

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

ATIVIDADES TURÍSTICAS NAS TERRAS INDÍGENAS BRASILEIRAS Abordagem analítica e proposta de regulamentação

A partir dos anos de 1990, a propagação de que o ecoturismo seria uma das mais promissoras atividades econômicas mundiais tomou proporções no espaço territorial brasileiro de tal forma que atingiu as áreas protegidas, em especial as terras indígenas. Este fato vem exigindo reformulações tanto teórico-metodológicas em certas áreas disciplinares, quanto na esfera de elaboração de intervenções no modo como os novos arranjos socioculturais, políticos e ambientais são compreendidos sem que as suas especificidades sejam negligenciadas. São conjuntos de relações que acomodam, conflituosamente, distintos regimes de verdade, configurações institucionais e manifestações que implicam em novos desafios interpretativos e práticos. Neste cenário, a problemática apresentada nesta pesquisa é composta por dois temas discursivos que circulam no campo socioambiental, indigenista, político e cultural de maneira inter-relacionada: o ecoturismo e as terras indígenas brasileiras.
Esta investigação tem como proposta analisar a articulação desses dois temas em diferentes cenários no espaço pluriétnico nacional. De um lado, trata-se de discutir como as problemáticas do ecoturismo e do indigenismo foram relacionadas aos debates sobre as possíveis maneiras de serem adaptadas ao que se denomina ecoturismo nas terras indígenas desde o início dos anos 90 de século passado até o atual contexto da conjuntura sociopolítica brasileira. Por outro, analisar as representações a respeito do tema nos atuais debates sobre a formulação de políticas públicas, incluindo uma proposta de regulamentação capaz de dirimir as situações conflituosas.
A intenção foi demonstrar como certos impasses históricos, jurídicos e conceituais relacionados ao ecoturismo aparecem na arena política indigenista, ambiental e econômica como modelo de uma suposta inclusão social e incremento produtivo sustentável para os Povos Indígenas brasileiros.
Palavras-chave: turismo, ecoturismo, indigenismo, terras indígenas, atividades turísticas em terras indígenas, ecoturismo em terras indígenas, patrimônio cultural indígena, turismo sustentável, turismo cultural, turismo étnico, legislação indigenista, antropologia.

Link direto (Scribd|) trabalho na íntegra: http://bit.ly/r2bARX

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

1º de agosto de 2011 – TWITTER


Muito trabalho e pouco tempo para atualizar este blog.
Por isso, tenho utilizado o twitter em virtude da dinamicidade, praticidade e alcance.
É uma excelente ferramenta para troca de informações e buscas. Até a pagina inicial mudou: antes era “o que você está fazendo” para “o que está acontecendo”.
Longe de velhos preconceitos de “mais uma rede social”, vale a pena explorar !!!!

www.twitter.com/gilbertodasilva

quinta-feira, 31 de março de 2011



Hoje, dia 31 de março de 2011,  um pouco de poesia....


    OUÇA

Ouça, me ouça, quero falar,
Falo desde aqui, de onde estou,
Hoje, agora. Ainda estou.
Desde aqui, falo a todos vocês.
Aos humanos e aos desumanos, também.
Aos grandes: elefantes, árvores.
Aos minúsculos. Vírus, inclusive.

Falo aos viventes, que vivem,
Que sofrem, que sentem,
Mais calidamente falo, confesso,
A meus irmãos humanos,
Aos homens, às mulheres, às crianças todas,
Aos jovens na glória de viver uma vida nova,
À gente madura, aos velhos, que nem eu.

Não falo em nome de ninguém. Nem de nada.
Não sou voz de instituição nenhuma.
Falo com a só autoridade de ser vivo,
Com o senso de quem já viveu
Quase toda a sua vida por viver.
Sou a voz da velhice, contente por ter vivido.
Que só quisera viver mais, muito mais.

A todos vocês, inumeráveis seres,
Que, tal como eu, em breve serão coisas,
A todos vocês, digo: viva a vida.
A vida que estamos vivendo, ainda,
A vida que nos esvai, inexorável.
A vida, que transmitimos a outros,
Para prosseguir, vivendo, morrendo,
A todos vocês, falo e digo: viva a vida.
Me vou, adeus. Gostarei demais de ter sido.
Saudades.

(Darcy Ribeiro)